Arquivo mensal: agosto 2013

A carta

Padrão

Hoje acordei determinado a começar a arrumar as malas. Minha mãe até estranhou eu me preocupar com isso sendo que estamos há 4 dias da minha partida e eu costumo mesmo é arrumar as coisas na véspera.

Em meio há roupas, livros, cadernos, mochilas, presentes e fotos, havia uma folha avulsa. Era uma folha de caderno com coraçõezinhos na margem, coisa de alguém do colégio eu pensei. Eu desdobro a folha em êxtase misturado a desespero para desvendar do que se tratava, e encontro uma carta escrita por uma amiga e ex-colega de classe. A data, 14/12/2011, é do meu último dia de aula na Universidade.

Ao ler a mensagem, revivi muitos momentos que guardo no coração em um lugar tão especial que às vezes não consigo encontrá-los. Não que eles sejam substituídos por outros, mas vêm à tona apenas quando preciso me lembrar de onde eu vim, como cheguei até aqui e pra onde quero ir. Então hoje, 29/08/2013, eu me sinto com a mesma vontade de sair e ganhar o mundo que tinha ao terminar meus estudos. Sinto que a coragem e garra ainda correm minhas veias.

Mais do que uma carta, as palavras naquela folha de papel me despertaram e fizeram entender um pouco mais dessa coisa chamada vida. É incrível como uma carta escrita em 2011 se tornou atemporal. A mensagem fez sentido há dois anos, e faz sentido no exato presente. Por alguma razão ela me escreveu aquilo e por alguma outra razão eu me deparei com a carta novamente hoje. O fato de ser atemporal reside em reduzir o tempo a pó. Passam-se 5 anos e você sente que foi ontem, passarão outros 5 e você ainda vai se perguntar “mas faz tanto tempo assim?”.  Tempo é nada, o que fica são palavras, momentos, memórias. Ah, e bons amigos.

Eu que sempre fui de escrever cartas, sou melhor escrevendo meus sentimentos do que falando sobre eles, fiquei me perguntando se algum dos meus destinatários já encontrou um recadinho meu e passou pela mesma viagem no tempo.

Escrever não me cansa as mãos, muito menos o coração. E eu que levo apenas 24 anos e 7 meses escrevendo esse romance que chamo de vida.

Eu falo demais

Padrão

Acho que eu falo demais. É da minha natureza gostar de dizer, seja com palavras ou não. As vezes eu não sei usar as palavras certas, não sou poeta, apenas deixo elas saírem. Então aí vai.

Pareço vitrola enguiçada e acho que meu disco só toca aquela música que me faz lembrar você. É o barulhinho bom que remete ao teu ensurdecedor e vibrante silêncio. Silêncio vazio.

Quanto drama. Drama também é do meu ser, mas quão dramático é pensar que qualquer música foi escrita pra mim, que as letras traduzem o que eu estou sentindo e que há uma melodia para cada uma das minhas cicatrizes? É um dramalhão. Também pudera, é de família ser noveleiro.

É tragédia – O homem não foge ao seu destino.  Os deuses fazem da sua vida o seu pior pesadelo para te ensinar uma lição. Eu aprendi a minha. Aprendi que há muita coisa na vida que não podemos mudar, só aceitar. Que muita coisa na vida não acontece como ou quando a gente espera, que devemos fazer coisas que não queremos mas que são necessárias. E isso dói muito.

Apesar disso, tudo tem uma explicação, porque tudo foi orquestrado pelos ‘deuses’. Então na vida só nos resta viver. Quanto mais se vive, mais se aprende. Quanto mais erramos, menos trabalho para os deuses.  Um dia, quando menos esperarmos, seremos agraciados com a catarse de sermos o que somos. Ah, essa foi outra lição que eu aprendi. Ele dizia: “Não se desculpe por ser você”. Ele não é um deus, tampouco grego. C’est la vie.