Merhaba kankas! (já faz tempo que não uso essa saudação =/)
Depois de ver tantos comentários no facebook e acompanhar algumas coisas pelo twitter, decidi ver qual é dessa novela da Gloria Peres sobre a Turquia mesmo antes de acabar Avenida Brasil. Fui muito fanzoca de O clone e Caminha das Indias, mas agora é diferente porque já morei no país onde a novela se passa e estava muito curioso pra saber como ela retrataria um país tão bonito e de cultura tão exótica como a Turquia.
Primeiro devo dizer do fundo do meu coração que: Gloria Peres eu te amo, mas os 3 primeiros episódios tão bem sofridos. Não só a parte da Turquia, que to achando até legal, mas os atores em geral tão deixando a desejar. Talvez seja porque ainda há muita comparação com Avenida Brasil, ou talvez por Glorinha gostar de repetir elenco e trama. Mas vamos analisar algumas coisas. Antes só queria lembrá-los de que morei em Antalya e tive contato com a cultura turca por meio de alunos, amigos da AIESEC e da família de alguns, mas infelizmente não fiquei tempo suficiente pra realmente mergulhar na cultura do país e passar muitas das fases do choque cultural.
A primeira cena da novela já foi um pouco forte, ceis também não acharam? Bom, além de já começar falando de prostituição, devo dizer que isso revela um pouco da cultura turca (infelizmente). Durante as minhas aulas na Turquia, eu costumava questionar meus alunos sobre diversos temas, tentar fazer com que a cultura deles se fizesse presente nas aulas a partir de pontos de vista, argumentos em discussões, etc. Alguns dos meus alunos de 22 ou 23 anos já era casada e tinha filhos. Pasmem, alguns achavam que tinham casado tarde. Mas o ponto aqui é que ouvi de muitos deles que suas esposas não trabalhavam e que deviam apenas cuidar da casa e do filho. Da mesma forma, sexo com elas era mais pra procriação mesmo e que por diversão…bom não preciso dizer mais nada. Esses assuntos sempre vinham à tona quando me perguntavam das mulheres brasileiras e então sempre citavam Adriana Lima (uma deusa pra eles porque fazia propaganda de uma marca de roupa).
Pela roupa que a morena estava me lembrei das odaliscas. As bailarinas de dança do ventre são consideradas strippers e durante os shows (na maioria das vezes para turistas) os homens colocam notas de dinheiro na alça do sutiã. Nenhum pai quer ver a filha virando odalisca ALLAH ALLAH.
Falando de Allah Allah, já to vendo quais serão os novos bordões. Até agora eu ouvi (com uma pronuncia péssima): çok guzel, mashallah, allah allah, sherefe, gule gule, hadi, tamam, yok. Gente, vamo combina que quando alguém chama a Britney de ‘Britchinei’ ceis fikam loka da xereca, nada mais justo que falar as palavrinhas certinho poxa! Alem do mais a entonação tá cagada. Allah allah, por exemplo, é algo como “Ai meu Deus do céu”, usado para reprovação ou demonstrar preocupação. O Mustafá quando fala isso soa muito feliz. E gule gule se diz ‘gulé gulé ‘ assim como nargile ‘narguilé’.
Outra característica turca que já ficou clara nos primeiros capítulos foi a habilidade para o comércio. Mustafa é ambicioso, quer expandir os negócios e sabe defender a qualidade dos seus produtos. Engraçado mesmo foi a cena no Gran Bazar que o vendedor falou com os brasileiros e depois em inglês com outros fregueses. Aí o Mustafa disse: “Agora ele tem primos em Nova York”. Ou seja, sim conseguem vender um picolé no Alaska.
Da mesma cena vieram as coisas que os turcos conhecem do Brasil (faltou Adriana Lima). “Ronaldinho, Copacabana, Bahia, ai se eu te pego…” Eu não ouvia falar muito da Bahia, mas em compensação o ai se eu te pego…
Algo que senti falta nos cenários foram as fotos do Ataturk. Allah no céu e Ataturk na Terra (muitos não aceitam a sua morte, ou se aceitam já o adoram como um Deus). Na verdade essa devoção toda é porque de fato o cara revolucionou o país e é por causa dele que a Turquia está onde esta (pronta pra entrar na zona do euro há mais de 10 anos). Ele fundou e foi o primeiro presidente da Republica d Turquia. Assim, todos os turcos tem camisetas com seu nome, fotos e quadros espalhados por todos os lugares (já vi até no banheiro) e muitas estatuas (cheguei a ver uma gigante esculpida numa pedra tipo aquela que tem nos States). Muitos tem ele na foto do perfil do facebook. Nos episódios que eu vi, só apareceu uma foto dele na loja do Mustafa.
A Mariana Rios foi visitar um Turkish Hamami. É tipo um SPA, assim mesmo como mostraram. Claro que aquele era um Hamami de luxo e os turcos não vão fazer esfoliação toda semana como disse a outra menina, filha do Mustafa. Seria bom se fossem, já que não tomam banho todos os dias. Akela esfoliação dói mesmo e o pessoal não tem dó. Vai pegando braço, perna e esfregando. É engraçado até. Ainda no núcleo jovem, uma cena mostrou as meninas fumando nargile num pub. Isso pode ter, só que mais em Istambul. Porque nos lounges que eu fui para fumar nargile, só homens podiam entrar. Mas Istambul é uma cidade bem diferente das outras. Não sei se foi uma boa ideia usa-la como cenário, já que é uma cidade muito cosmopolita e assim sem muita identidade turca, assim como qualquer outra grande cidade e apesar de a cidade ser pura história. Mas em O clone a cidade era Fez se não me engano, que é a capital dos negócios no Marrocos, então Gloria Peres deve ta seguindo uma lógica.
Minhas primeiras impressões da novela são boas, apesar da atuação fraca. A trama sem muitos mistérios e provavelmente sem um final surpreendente. Porém, Gloria Peres com certeza vai abordar temas polêmicos e fazer o papel social que as novelas têm no Brasil, de abrir espaço para discussão. E me encanta que a cultura turca seja o epicentro destas discussões, porque a Turquia é um país incrível. Espero que vocês entendam o porquê por meio da novela, se não, visitem a terra de Allah. Sem contar que aprendendo mais sobre os outros povos aprendemos mais sobre nós mesmo e sobre o nosso país. Eu, por exemplo, nem sabia que no morro do Alemão tinha teleférico como os das favelas colombianas. Vou continuar assistindo e se me der vontade posso postar mais comentários aki. Gostaria muito que Gloria Peres mostrasse o valor das refeições com a família reunida, o quão precioso é o alimento para eles. E mais do que isso, mostrar o que realmente é amar futebol e ser fanático por um esporte num país que não tem tradição, mas onde os jogadores jogam com raça sem pensar na conta bancária.
Gurushurus kendine iyi bak, kankas!